Prólogo


Meus dedos tremiam como quando os levantei, meu batimento cardíaco rápido como um beija-flor. A mão forte de Joe foi firme quando ele segurou a minha e colocou a aliança no meu dedo. Ouro branco com vinte pequenos diamantes. O que era como um sinal de amor e devoção por outros casais não passava de um atestado de sua posse sobre mim. Um lembrete diário da gaiola dourada em que eu estaria presa pelo resto da minha vida. Até que a morte nos separe não era uma promessa vazia, como para tantos outros casais que diziam as palavras sagradas do casamento. Não havia maneira de sair dessa união pra mim. Eu era de Joe até o amargo fim. As últimas palavras do juramento que os homens faziam quando eram admitidos na máfia poderiam muito bem ter sido o meu voto de casamento: “Eu entro vivo e vou sair morto”. Eu deveria ter fugido quando ainda tinha a chance. Agora, enquanto centenas de rostos das Famílias de Chicago e Nova York olhavam para nós, fugir já não era uma opção. Nem o divórcio. A morte era o único final aceitável para um casamento em nosso mundo. Mesmo se eu ainda conseguisse escapar dos olhos atentos de Joe e de seus capangas, o descumprimento do nosso acordo significaria guerra. Nada que meu pai dissesse impediria a família de Joe de se vingar por fazê-los perder o prestígio. Meus sentimentos não importavam, nunca importaram. Eu tinha crescido em um mundo onde opções não eram dadas, especialmente para as mulheres. Este casamento não era sobre amor ou confiança ou escolha. Era sobre dever e honra, sobre fazer o que era esperado. Um vínculo que garantiria a paz. Eu não era idiota. Eu sabia que as coisas mais fortes eram: dinheiro e poder.
Ambos estavam diminuindo desde que a máfia russa, A Bratva, a taiwanesa Triad, e outras organizações criminosas vinham tentando expandir sua influência em nossos territórios. As Famílias italianas de todos os EUA trabalhavam em conjunto, escolhendo suas batalhas para que pudessem descansar e derrubar seus inimigos juntas. Eu deveria estar honrada por me casar com o filho mais velho da Família de Nova York. Isso é o que o meu pai e todos os outros parentes do sexo masculino me diziam desde o meu noivado com Joe. Eu sabia disso, e não era como se não tivesse tido tempo para me preparar para este momento, e ainda tinha que aguentar o espartilho apertando o meu corpo.
 — Você pode beijar a noiva, — disse o padre. 
Ergui a cabeça. Cada par de olhos no pavilhão me examinou, à espera de um lampejo de fraqueza. Papai ficaria furioso se eu deixasse o meu terror aparecer, e a família de Joe iria usar isso contra nós. Mas eu tinha crescido em um mundo onde a máscara perfeita era a única proteção das mulheres e não tive problemas em forçar meu rosto em uma expressão plácida. Ninguém sabe o quanto eu queria fugir. Ninguém além de Joe.
Eu não conseguia esconder dele, não importa o quanto eu tentasse. Meu corpo não parava de tremer. Quando o meu olhar encontrou seu olhos frios e cinzentos, podia dizer que ele sabia. Quantas vezes ele tinha disseminado o medo nos outros? Reconheci que provavelmente era uma segunda natureza para ele. Ele se abaixou para diminuir os quase 25 centímetros que o faziam maior que eu. Não havia nenhum sinal de hesitação, medo ou dúvida sobre o seu rosto. Meus lábios tremeram contra sua boca enquanto seus olhos se cravaram em mim. Sua mensagem era clara: você é minha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário