Capítulo 8

Minha respiração formava uma fumaça cada vez que saía dos meus lábios. Até o meu casaco grosso não poderia me proteger do inverno de Chicago. A neve rangia sob minhas botas enquanto eu seguia minha mãe ao longo da calçada em direção ao prédio de tijolos, que abrigava a loja do casamento mais luxuosa do Centro-Oeste. Umberto seguia de perto logo atrás, era a minha sombra constante. Outro dos soldados do meu pai fazia a escolta, atrás de minhas irmãs. 
As portas giratórias nos levaram ao interior iluminado da loja, e a proprietária e seus dois assistentes imediatamente nos cumprimentaram. — Feliz aniversário, Srta. Scuderi, — disse ela em sua voz melodiosa. 
Forcei um sorriso. O meu aniversário de dezoito anos era para ser um dia de comemoração. Em vez disso, só queria dizer que eu estava mais um passo mais perto de me casar com Joe. Eu não o tinha visto desde aquela noite em que ele cortou o dedo de Raffaele. 
Ele me enviou joias caras nos meus aniversários, natais, dia dos namorados e nos aniversários do nosso noivado; esse foi o máximo de contato que tivemos nos últimos 30 meses. Eu tinha visto fotos dele com outras mulheres na internet, mas, a partir de hoje, quando o nosso noivado seria vazado para a imprensa, pelo menos em público ele não iria exibir mais suas prostitutas. 
Eu não me iludia pensando que ele não iria mais dormir com elas. E eu não me importava. Já que ele usava outras mulheres para se aliviar, eu esperava que não pensasse em mim dessa forma. 
— Apenas seis meses até o seu casamento, se eu estou bem informada? — a dona da loja perguntou. Ela era a única pessoa que parecia animado. Nenhuma surpresa, afinal ela iria fazer um monte de dinheiro hoje. O casamento que marcaria a união final da máfia de Chicago e de Nova York deveria ser um momento esplêndido. O dinheiro era irrelevante. 
Inclinei a cabeça. 166 dias até que eu tivesse que trocar uma gaiola dourada por outra. Gianna me deu um olhar que deixou claro o que ela pensava sobre o assunto, mas manteve a boca fechada. Aos dezesseis anos e meio, Gianna tinha finalmente aprendido a controlar suas explosões, quase sempre. 
A dona da loja nos levou para o provador. Umberto e o outro homem ficaram do lado de fora das cortinas fechadas. Lily e Gianna se sentaram no caro sofá branco enquanto mamãe começou a olhar os vestidos de noiva em exposição. Eu estava no meio da sala. A visão de todos os tules brancos, sedas, brocados e o que eles representavam fez um nó na minha garganta. Eu seria uma mulher casada em breve. Citações sobre o amor decoravam as paredes da sala; parecia uma provocação, considerando a dura realidade que era a minha vida. O que era o amor, só um sonho bobo? 
Eu podia sentir os olhos da proprietária da loja e seus assistentes em mim, e endireitei os ombros antes de me juntar a minha mãe. Ninguém poderia saber que eu não era uma noiva feliz, mas um peão em um jogo de poder. Finalmente a dona da loja se aproximou de nós e nos mostrou seus vestidos mais caros. 
— Que tipo de traje o seu futuro marido prefere? — Ela perguntou agradavelmente. 
— O tipo nu — disse Gianna, e minha mãe lançou um olhar. Corei, mas o dono da loja riu como se fosse tudo muito divertido. 
— Há tempo para isso na noite de núpcias, você não acha? — ela piscou. 
Estendi a mão para o vestido mais caro da coleção, um sonho de brocado; o top foi bordado com pérolas e fios prateados que formavam um padrão de flores delicadas. — Esses são fios de platina, — disse a proprietária da loja. Isso explicava o preço. — Acho que o seu noivo vai ficar satisfeito com sua escolha.  
Provavelmente ela o conhecia melhor do que eu. Joe era tão estranho para mim hoje como tinha sido há quase três anos. 
*** 
O casamento seria realizado nos vastos jardins da mansão Vitiello nos Hamptons. Todo mundo já estava em polvorosa com os preparativos. Eu não tinha posto os pés dentro da casa ou até mesmo nas suas instalações ainda, mas minha mãe me mantinha atualizada – não que eu tivesse pedido a ela. 
No momento em que minha família chegou a Nova York, há algumas horas, minhas irmãs e eu nos amontoamos em nossa suíte no Mandarin Oriental Hotel em Manhattan. Salvatore Vitiello havia sugerido que ficássemos em um dos muitos quartos na mansão até o casamento em cinco dias, mas meu pai recusou. Três anos de cooperação provisória e eles ainda não confiam um no outro. Eu estava feliz. Não queria pisar na mansão até que fosse obrigada a fazer isso. 
Meu pai concordou em me deixar compartilhar uma suíte com Lily e Gianna, para que ele e mamãe tivessem uma suíte própria. Naturalmente, um guarda-costas estava estacionado na frente de cada uma das três portas da nossa suíte. 
— Será que temos realmente que ir ao chá de panela amanhã? — perguntou Lily, suas pernas nuas sobre o encosto do sofá. Minha mãe sempre disse que Nabokov deve ter tido Liliana em mente quando escreveu Lolita. Enquanto Gianna provocava com as suas palavras, Lily usava seu corpo para isso. Ela fez catorze anos em abril, uma criança que tentava usar suas curvas para conseguir o que queria. Ela parecia a modelo adolescente Thylane Blondeau, só que seu cabelo era um pouco mais claro e ela não tinha uma lacuna entre os dentes da frente. 
Isso me preocupava. Eu sabia que era a sua maneira de se rebelar contra a gaiola dourada que era a nossa vida, mas, enquanto os soldados do pai consideravam seu flerte uma diversão, havia outras pessoas lá fora que poderiam interpretar isso mal. 
— Claro, temos sim, — Gianna murmurou. — Demi é a noiva feliz, lembra? Lily bufou. — Claro. — Ela sentou-se abruptamente. — Estou entediada. Vamos às compras. 
Umberto não estava entusiasmado com a sugestão, mesmo com outro dos guarda-costas do meu pai ao seu lado ele alegou que era quase impossível nos manter sob controle. Finalmente ele acabou cedendo, como sempre fazia. 
*** 
Estávamos fazendo compras em uma loja que vendia roupas do estilo rock chic que Lily queria desesperadamente conhecer quando recebi uma mensagem de Joe. Foi a primeira vez que ele entrou em contato comigo diretamente e em muito tempo. Eu só fiquei olhando para a tela. Gianna olhou por cima do meu ombro no provador. — 'Me encontre no seu hotel às seis. Joe’. — Legal da parte dele perguntar. 
— O que ele quer? — eu sussurrei. Esperava não ter que vê-lo até 10 de agosto, o dia do nosso casamento. 
— Só há uma maneira de descobrir, — disse Gianna, se olhando no espelho. 
*** 
Eu estava nervosa. Não via Joe há muito tempo. Alisei meu cabelo para baixo, então endireitei minha camisa. Gianna tinha me convencido a usar os jeans skinny pretos apertados que eu tinha comprado hoje. Agora eu me perguntava se algo que chamasse menos atenção para o corpo não teria sido uma escolha melhor. Eu ainda tinha quinze minutos antes de Joe me encontrar. Eu nem sequer sei onde, ainda. Pensei que ele ia me ligar quando chegasse, e me pediria para descer para o saguão. 
— Pare de se mexer, — disse Gianna do seu lugar no sofá, lendo uma revista. 
— Eu realmente não acho que esta roupa é uma boa ideia. 
— É. É fácil de manipular os homens. Lily tem catorze anos e já percebeu isso. O pai sempre diz que somos o sexo frágil, porque não temos armas. Nós temos nossas próprias armas, Demi, e você vai ter que começar a usá-las. Se você quiser sobreviver a um casamento com aquele homem, você terá que usar o seu corpo para manipulá-lo. Os homens, mesmo os bastardos de coração frio como ele, têm uma fraqueza, e ela está entre as pernas. 
Eu não acho que Joe poderia ser manipulado facilmente. Ele não parecia ser alguém que já perdeu o controle, a menos que ele quisesse, e eu realmente não tinha certeza se queria que ele notasse meu corpo assim. 
Uma batida me fez pular e meus olhos voaram para o relógio. Ainda era muito cedo para Joe e ele realmente não iria vir até nossa suíte, iria? Lily saiu correndo de seu quarto antes que Gianna ou eu pudéssemos nos mover. Ela estava vestindo sua nova roupa rock chic, calças de couro justas e uma camiseta preta apertada. Ela achou que parecia adulta assim. Gianna e eu achamos que ela parecia uma garota de quatorze anos de idade tentando parecer adulta. Ela abriu a porta, projetando seu quadril para fora, tentando parecer sexy. Gianna gemeu, mas eu não estava prestando atenção nela. 
— Oi Joe, — Lily disse. Eu me aproximei para que pudesse ver Joe. Ele estava olhando para Lily, obviamente tentando descobrir quem ela era. Nick, Romero e Cesare estavam atrás dele. Wowww, ele trouxe sua comitiva. Onde estava Umberto? 
— Você é Liliana, a irmã mais nova, — disse Joe, ignorando a expressão sedutora de Lily. 
Lily franziu a testa. — Eu não sou tão nova. 
— Sim, você é, — eu disse com firmeza, caminhando até ela e colocando minhas mãos em seus ombros. Ela era apenas alguns centímetros menor do que eu. — Vá com Gianna.  
Lily me deu um olhar incrédulo, mas depois se moveu furtivamente para longe. Meu pulso estava a mil quando me virei para Joe. Seu olhar permanecia em minhas pernas, e depois se moveu lentamente até chegar ao meu rosto.  
Não era esse o olhar que ele tinha nos olhos a última vez que o vi. E eu notei que esse era um começo que eu queria. — Eu não sabia que nos encontraríamos na minha suíte, — eu disse, então percebi que deveria tê-lo recebido, ou pelo menos tentar parecer menos rude. 
— Você vai me deixar entrar? 
Eu hesitei, então recuei e deixei que os homens passassem por mim. Apenas Cesare ficou de fora. Ele fechou a porta, embora eu tivesse preferido mantê-la aberta. Nick andou até Gianna, que rapidamente sentou-se e deu-lhe o mais sórdido olhar. Lily, é claro, sorriu para ele. — Posso ver sua arma?

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