Capítulo 7

O olhar duro de Joe passou sobre mim e eu parei de respirar. — Ela não me desobedeceu. 
Os lábios de meu pai relaxaram. — Você está certo. Mas a meu ver, Demi estará vivendo debaixo do meu teto até o casamento, e como a honra me impede de levantar a mão contra ela, eu vou ter que encontrar outra maneira de fazê-la me obedecer. — Ele encarou Gianna e bateu-lhe uma segunda vez. — Para cada uma de suas más ações, Demi, sua irmã vai receber a punição em seu lugar. 
Eu apertei os lábios, as lágrimas brotaram nos meus olhos. Eu não olhei para Joe ou papai, não até que eu pudesse encontrar uma maneira de esconder o meu ódio deles. 
— Umberto, leve Gianna e Demi para seus quartos e se certifique que elas fiquem lá. — Umberto embainhou a faca e fez um gesto para que o seguíssemos. Eu passei pelo meu pai, arrastando Gianna comigo, sua cabeça baixa. Ela endureceu quando nós passamos por cima do sangue no chão de madeira e o dedo cortado que estava lá. Meus olhos dispararam para Raffaele, que estava segurando o ferimento ainda sangrando. Suas mãos, a camisa e as calças estavam cobertas de sangue. Gianna ia vomitar se olhasse novamente. 
— Não — eu disse com firmeza. — Olhe para mim.  
Ela levou os olhos para longe do sangue e encontrou meu olhar. Havia lágrimas em seus olhos e seu lábio inferior tinha um corte que estava pingando sangue em seu queixo e sua camisola. Minha mão estava apertada sobre a dela. Eu estou aqui por você. Nossos olhares travados pareciam ser sua única âncora quando Umberto nos levou para fora da sala. 
— Mulheres — meu pai disse em um tom de escárnio. — Elas não podem sequer suportar a visão de um pouco de sangue. — Eu praticamente podia sentir os olhos de Joe em mim antes que a porta se fechasse. Gianna limpou o lábio sangrando quando nós corremos atrás de Umberto através do corredor e subimos as escadas. — Eu o odeio — ela murmurou. — Eu odeio todos eles. 
— Shh. — Eu não quero que ela fale assim na frente de Umberto. Ele cuidava de nós, mas era um soldado do meu pai. 
 Ele me impediu quando eu quis seguir Gianna para o seu quarto. Eu não queria que ela ficasse sozinha esta noite. E eu não queria estar sozinha também. — Você ouviu o que seu pai disse. 
Eu olhei para Umberto. — Eu preciso ajudar Gianna com o lábio. 
Umberto balançou a cabeça. — Isso não é nada. Vocês duas juntas em uma sala sempre causam problemas. Você acha que foi sábio irritar seu pai hoje à noite? — Umberto fechou a porta de Gianna e gentilmente me empurrou na direção do meu quarto, ao lado do dela. 
Entrei e então me virei para ele. — Uma sala cheia de homens adultos assiste a um homem bater em uma menina indefesa, essa é a famosa coragem dos homens feitos. 
— Seu futuro marido impediu seu pai. 
— O impediu de me bater, mas não em Gianna. 
Umberto sorriu como se eu fosse uma criança estúpida. — Joe pode governar Nova York, mas aqui é Chicago e seu pai é o Consigliere. 
— Você admira Joe  — eu disse, incrédula. — Você o assistiu cortar o dedo de Raffaele e o admirou por isso. 
— Seu primo é sortudo porque o Cruel não cortou outra coisa. Joe fez o que qualquer homem teria feito. 
Qualquer homem no nosso mundo, talvez. 
Umberto acariciou minha cabeça como se eu fosse um gatinho adorável. — Vá dormir. 
— Você vai vigiar minha porta a noite toda para ter certeza que eu não vou fugir de 
novo? — Eu disse desafiadoramente. 
— É melhor se acostumar com isso. Agora que Joe colocou um anel em seu dedo, ele vai se certificar de que você está sempre vigiada. 
Bati a porta. Vigiada. Mesmo de longe Joe estaria controlando minha vida. Eu pensei que teria um tempo para me acostumar até o casamento, mas como eu poderia quando todos sabiam o que significava o anel no meu dedo? O mindinho de Raffaele foi uma advertência. Joe tinha reivindicado seu direito sobre mim e gostaria de reforçá-lo a sangue frio. 
Eu não apaguei as luzes naquela noite, preocupada que a escuridão trouxesse de volta imagens do sangue do dedo cortado. Elas vieram de qualquer maneira.

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